Faculdade de Medicina de Marília: Disciplina de Embriologia Humana

 
   
 
 
 
 

Ovogênese

É o processo de formação dos ovócitos maduros. Este processo de maturação inicia-se antes do nascimento e é completado depois da puberdade, continuando até a menopausa.

- Maturação pré-natal dos ovócitos: Durante a vida fetal inicial, as ovogônias se proliferam por divisões mitóticas para formar os ovócitos primários antes do nascimento. O ovócito primário circundado por uma camada de células epiteliais foliculares constitui um folículo primordial. Os ovócitos iniciam sua primeira divisão meiótica antes do nascimento, mas param na prófase I (na fase do diplóteno) até a adolescência.

- Maturação pós-natal dos ovócitos: Após o nascimento, não se forma mais nenhum ovócito primário, ao contrário do que ocorre no homem, e existem cerca de 2 milhões de ovócito primários. Estes permanecem em repouso até a puberdade, motivo responsável pela alta freqüência de erros meióticos que ocorrem com o aumento da idade materna. Na adolescência restam cerca de 40 mil e destes cerca de 400 tornam-se ovócitos secundários e são liberados na ovulação.

A partir da puberdade um folículo amadurece a cada mês, completa a primeira divisão meiótica e pára na metáfase da segunda divisão. Forma-se o ovócito secundário que recebe quase todo o citoplasma e o primeiro corpo polar (célula pequena, não funcional, que logo degenera) recebe muito pouco.

Antes da ovulação, o núcleo do ovócito secundário inicia a segunda divisão meiótica, mas progride até a metáfase, quando a divisão é interrompida. Se um espermatozóide penetra nesse ovócito, a segunda divisão é completada e novamente maior parte do citoplasma é mantida em uma célula, o ovócito fecundado. A outra célula, o segundo corpo polar, é uma célula também pequena, não funcional, que logo degenera (figura 1).

O Folículo Ovariano

O ovócito fica contido numa vesícula denominada folículo ovariano. A formação do folículo se inicia com cerca de 18 semanas, perto da metade da vida pré-natal. Inicialmente, o ovócito primário está envolvido por uma única camada de células epiteliais achatadas - folículo primordial - depois por uma camada de células cubóides ou colunares - folículo primário - a seguir por um epitélio estratificado - folículo secundário - e, finalmente, por células que delimitam uma cavidade cheia de líquido, o antro- folículo terciário ou vesicular.

Alguns dias após a menstruação, um novo folículo será escolhido (folículo dominante), o ovócito atinge a segunda divisão meiótica, aumenta rapidamente de tamanho mediante a produção de fluido intercelular, e atinge o estágio de folículo secundário e, posteriormente, de folículo terciário (folículo de DeGraaf). A maioria dos folículos secundários e terciários regride formando folículos atrésicos.

O ovócito adquire uma cobertura chamada zona pelúcida, que é secretada tanto pelo ovócito, como pelas células foliculares. Envoltório transparente, acelular, glicoprotéica que age como barreira para os espermatozóides. Depois da fertilização, ela bloqueia a poliespermia e protege o embrião. Durante a formação do antro, as células foliculares se comprimem periféricamente e formam o estrato granuloso, em torno do qual o estroma ovariano se condensa formando uma camada glandular, a teca interna. O desenvolvimento folicular completo e a ovulação dependem do estímulo do ovário pelo hormônio FSH e LH, provenientes da hipófise.

Ciclo Ovariano e Uterino

O eixo hipotálamo-hipófise-gonadal é responsável pela produção de hormônios gonadotróficos (FSH e LH) que dão inicio as mudanças cíclicas no ovário na puberdade. Estes hormônios por sua vez levam o ovário a secretar estrógeno e progesterona, responsável pelo ciclo uterino.  O ciclo uterino e ovariano prepara o sistema reprodutor para a gravidez (figura 2).

Ciclo ovariano: compreende a fase folicular e luteínica.

1) Fase folicular: Dura 12-16 dias. Iniciada pelo FSH, acompanhada pelo aumento de estrógeno, que tem um aumento rápido e desencadeia um aumento pré-ovulatório de LH, que induz a ovulação.

2) Fase luteínica: Dura 10-16 dias. Caracterizada por uma mudança na dominância de estrógenos para progesterona pela formação de um corpo lúteo.

Ciclo uterino: compreende a fase menstrual, proliferativa e secretora.

1) Menstruação: Abrange 4-5 dias durante os quais a membrana mucosa do endométrio descama e ocorre o sangramento. Os sinais ovarianos de queda do estrógeno e progesterona são essenciais.

2) Fase proliferativa: Após a menstruação, há um aumento do estímulo estrogênico, regenerando o endométrio, a partir das glândulas uterinas da camada basal.

3) Fase secretora: Depois da ovulação, o corpo lúteo secreta progesterona e estrógeno. O estroma uterino torna-se edemaciado e as células do estroma de hipertrofiam (reação da decídua) preparando-se para uma possível gravidez.

Correlações clínicas

Modificações do Genoma: A não-disjunção ocorre quando os cromossomos pareados ou cromátides-irmãs não se separam na anáfase da meiose I, ou na meiose II.

Síndrome de Down: Não-disjunção do cromossomo 21 (47, trissomia do 21).

Anomalia cromossômica causada por um erro durante a meiose. Ocorre quando um gameta com duas cópias do cromossomo 21 se une com um gameta normal, resultando em um embrião com trissomia do 21, que pode sobreviver, ao contrário da monossomia do 21. Crianças com trissomia do 21 ( Síndrome de Down) possuem características faciais reconhecíveis com baixa implantação das orelhas, baixa estatura, retardo mental, defeitos cardíacos congênitos, perda de audição, obstrução duodenal e defeitos no sistema imune. Estudos da década de 1990 que utilizavam uma técnica molécular sensível (Southern Blot) forneceu evidências de que cerca de 90 a 95% dos casos de Síndrome de Down acontecem pela não-disjunção na linhagem germinativa materna (figura 3)

Algumas vezes, uma cópia do cromossomo 21 se prende a outro cromossomo, como o cromossomo 14, evento chamado translocação que afeta 2 a 5%de todos os indivíduos com Sindrome de Down. A incidência de tal síndrome aumenta significativamente com a idade materna, após os 40 anos.

Figura 1 - Cariótipo da não-disjunção do cromossomo 21.



Fonte: Schoenwolf et al. (2008).

Síndrome de Turner: Não-disjunção dos cromossomos sexuais em mulheres (X0).

Síndrome de Klinefelter: Não-disjunção dos cromossomos sexuais em homens (XXY)


Bibliografia Consultada:

Moore KL, Persaud TVN. Embriologia clínica. 8a ed. Rio de Janeiro (RJ): Elsevier; 2008.

O’Rahilly R, Müller F. Embriologia & teratologia humanas. 3a ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2005.

Schoenwolf GC, Bleyl SB, Brauer PR, Francis-West PH. Larsen’s human embryology. 4th ed. Philadelphia: Churchill & Livingston; 2008.

Moore KL, Persaud TVN, Shiota K. Atlas colorido de embriologia clínica. 2a ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2002.

Moore KL, Persaud TVN. The developing human: clinically oriented embryology. 7th ed. Philadelphia: WB Saunders; 2003.

 

 
 

Figura 1 - Esquema do desenvolvimento folicular até a ovulação no interior do ovário.

Fonte: Schoenwolf et al. (2008).


Figura 2 – Esquema da gametogênese normal.

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_SbP8CLsg6EE
/TE3bF9bCpDI/AAAAAAAACR4/a49mUXKd4ZE/s1600
/ciclo+menstrual.gif/