Faculdade de Medicina de Marília: Disciplina de Embriologia Humana

 
   
 
 
 
 

Músculo Esquelético

No embrião, tanto os músculos estriados do tronco quanto dos membros têm origem no mesoderma paraxial segmentado (os somitos) embora sejam formados de maneira distinta : músculos esqueléticos do tronco são derivados dos mioblastos do mesoderma das regiões do miótomo (Figura 1) dos somitos (Figuras 2 e 3), já os músculos dos membros desenvolvem-se a partir de células precursoras que migram para o broto dos membros a partir da parte ventral do dermomiótomo dos somitos. Essas células são inicialmente de natureza epitelial, e após a transformação epitélio-mesenquimal, migram para o primórdio do membro.

O que os somitos originam?

Os somitos são estruturas segmentadas derivadas do mesoderma paraxial. Depois de se formarem, as células da parte ventromedial do somito passarão por uma transformação epitélio-mesenquimal e formarão o esclerótomo; o restante do somito permanece epitelial e forma o dermomiótomo.
O esclerótomo originará as vértebras, as costelas, já o dermomiótomo contém as futuras células miogênicas e dérmicas.
Além disso, o somito controla as vias das células da crista neural e da migração dos axônios motores, e portanto, é responsável pela segmentação do sistema nervoso periférico.

Na cabeça, os músculos não têm a mesma origem. A língua se origina dos somitos enquanto os outros músculos craniofaciais se originam do mesoderma paraxial não segmentado e do mesoderma da placa precordal (ou seja, do mesoderma da cabeça).

O desenvolvimento da musculatura envolve uma miogênese primária que ocorre no embrião, e posteriormente, no feto, uma miogênese secundária que é responsável pela formação da maioria dos músculos fetais. Na vida pós-natal, são encontradas células satélites, células também derivadas dos somitos, que em resposta ao exercício ou lesão muscular formam novos miócitos permitindo a regeneração do músculo.

Cada porção do miótomo de um somito (Figura 3) apresenta uma divisão epiaxial (ou epímero dorsal) e uma divisão hipoaxial (ou hipômero ventral).

A divisão epiaxial originará os músculos segmentares da maior parte do eixo do corpo, os músculos extensores do pescoço e da coluna vertebral. Os músculos extensores embrionários derivados dos miótomos sacrais e coccigeanos degeneram; seus derivados adultos são os ligamentos sacrococcígeos dorsais.

A divisão hipoaxial dos miótomos cervicais forma os músculos escaleno, pré-vertebral, gênio-hióide e infra-hióide Os miótomos torácicos (Figura 4) formam os músculos flexores lateral e ventral da coluna vertebral, enquanto os miótomos lombares formam o músculo quadrado lombar.

Os músculos dos membros, os músculos intercostais e os músculos abdominais também são derivados das divisões hipoaxiais dos miótomos. Os mioblastos no membros formam duas grandes condensações no broto do membro: uma ventral e uma dorsal (Figura 5). A massa dorsal originará os extensores e supinadores do membro superior e aos extensores e abdutores do membro inferior. Já a massa ventral originará os flexores e pronadores do membro superior e flexores e abdutores do membro inferior.

Os miótomos sacrococcígeos formam os músculos do diafragma pélvico e, provavelmente, os músculos estriados do ânus e dos órgãos sexuais.

Cada nervo espinhal em desenvolvimento também se divide e envia um ramo para cada divisão, com o ramo dorsal primário suprindo a divisão epiaxial e o ramo ventral primário, suprindo a divisão hipoaxial.

Acredita-se que a origem dos músculos extrínsecos do olho possam ser derivados de células mesenquimais próximas da Placa Pré-Cordal. Acredita-se que o mesoderma desta área dê origem a três miótomos pré-ópticos, cujos mioblastos diferenciam-se das células mesenquimais derivadas desses miótomos. Grupos de mioblastos, cada qual suprido por seu próprio nervo craniano (NC III, NC IV ou NC VI), formam os músculos extrínsecos do olho.

Inicialmente, existem quatro miótomos occipitais (pós-ópticos); no entanto, o primeiro par desaparece. Mioblastos dos miótomos remanescentes formam os músculos da língua, os quais são inervados pelo nervo hipoglosso (NC XII).

Na Prática Clínica: Distrofia Muscular

Essas anomalias constituem um grupo de disfunções herdadas, começando na infância e cursam com fraqueza muscular progressiva e perda muscular.

A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) e a Distrofia Muscular do tipo Becker (DMB) são heranças ligadas ao X e são causadas por mutação gênica na região cromossômica que codifica a proteína distrofina. Essa proteína, localizada sobre as bandas Z, forma a ligação mecânica forte à actina citoplasmática, participando do mecanismo de contração muscular. A doença DMD tem incidência aproximada de 1:3500 meninos nascidos vivos e é a distrofia muscular mais freqüente. Manifesta-se clinicamente aos 5 anos, sendo que os primeiros sinais de fraqueza muscular aparecem assim que são dados os primeiros passos, levando à dependência de cadeira de rodas aos 12 anos e avança ferozmente culminando com a morte aos 20 anos. A DMB é menos comum e menos grave que a DMD.

Figuras mostrando indivíduos com DMD levantando-se do chão com grande dificuldade por razão da extensa fraqueza muscular.

Fonte: http://connectedtothesubject.blogspot.com.br/2011/02/distrofia-muscular-duchenne.html

Outras anomalias musculares

Síndrome de Prune-Belly

Fonte: http://artedecuidar.webnode.com.br/products/sindrome%20de%20prune%20belly%20-pagina%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o

Também encontrada na literatura como síndrome de Eagle- Barret, síndrome do ventre de passa ou síndrome do ventre de ameixa seca. Essa doença é decorrente da ausência completa ou parcial da musculatura do abdome que pode ser tão fina a ponto de tornar os órgãos abdominais visíveis e facilmente palpáveis. Essa síndrome está associada a malformações do aparelho urinário e da bexiga, incluindo obstrução da uretra.

A sequência de Poland

Fonte: http://www.sirleicosta.com.br/sindrome_poland.php

Essa anomalia ocorre em 1:20 000 indivíduos e caracteriza-se pela ausência do músculo peitoral menor e pela perda parcial do peitoral maior. Também são descritos outros achados como sindactilia (dedos fundidos), braquidactilia (dedos curtos) do lado afetado; o mamilo e a aréola estão ausentes ou deslocados

Artrogripose

Fonte: Alencar Júnior et al. (1998).

São contraturas articulares congênitas que geralmente envolvem mais de uma articulação e podem ser causadas tanto por anormalidades musculares como miopatias e agenesias musculares como por defeitos neurológicos, como a deficiência das células do corno anterior e meningomielocele, articulares e dos tecidos contíguos(sinostose e desenvolvimento anormal) e quqndo há fetos múltiplos e restrição de crescimento, por exemplo em caso de oligodrâmnio.

 

Bibliografia Consultada:

Schoenwolf GC, Bleyl SB, Brauer PR, Francis-West PH. Larsen embriologia humana. 4a ed. Rio de Janeiro (RJ): Elsevier; 2009.

Moore KL, Persaud TVN. Embriologia clínica. 8a ed. Rio de Janeiro (RJ): Elsevier; 2008.

Moore KL, Persaud TVN. The developing human: clinically oriented embryology. 7th ed. Philadelphia: WB Saunders; 2003.

Sadler TW. Langman embriologia médica. 9a ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2005.

Universidade Federal Fluminense. Portal de videoaulas da UFF [Internet]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Federal Fluminense; 2012. [citado 30 out. 2012]. Disponível em: http://videoaulas.uff.br/embriologia-sistema-cardiovascular-parte-1.

Fisio Gyn [blog na Internet]. [Local desconhecido]: Fisio Gyn; c2012. [citado 30 out. 2012]. Disponível em: http://connectedtothesubject.blogspot.com.br/2011/02/distrofia-muscular-duchenne.html

Patologias [Internet]. [Local desconhecido]; c2012. [citado 30 out. 2012]. Disponível em: http://www.patologias.net/page/132/.

A arte de cuidar [Internet]. [Local desconhecido]; c2012. [citado 30 out. 2012]. Disponível em: http://artedecuidar.webnode.com.br/products/sindrome%20de%20prune%20belly%20-pagina%20em%20constru%C3%A7%C3%A3o/.

Costa S. Síndrome de Poland. Porto Alegre (RS): Centro de Cirurgia Reconstrutiva; [data desconecida]. [citado 30 out. 2012]. Disponível em: http://www.sirleicosta.com.br/sindrome_poland.php

Alencar Junior CA, Feitosa FEL, Gontei M, Maia SB, Meneses DB. Diagnóstico pré-natal da artrogripose multipla congênita: relato de caso. Rev Bras Ginecol Obstet [periódico na Internet]. 1998 set. [citado 30 out. 2012]; 20(8):481-4. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v20n8/a09v20n8.pdf

Sadler, TW. Langman fundamentos de embriologia médica. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2007.

Sadler TW. Langman embriologia médica. 9a ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2005.

 
 

PARA ILUSTRAR...

Sugestão de link para um vídeo disponível na internet em que é possível observar o desenvolvimento da musculatura esquelética.


Figura 1 – Desenho esquemático, mostrando a derivação da região do miótomo a partir dos somitos.

Fonte: Sadler (2007).

Figura 2 – Desenho de embrião humano de 28 dias em que podem ser observados somitos.

Fonte: Sadler (2005).

Figura 3 – Detalhe dos Somitos.

Fonte: Sadler (2007).

Figura 4 – Desenhos esquemáticos de um embrião de cerca de 41 dias mostrando os miótomos e o sistema muscular em desenvolvimento.

Fonte: Moore & Persaud (2003)

Figura 5 – Desenhos mostrando o sistema muscular em desenvolvimento.

Fonte: Moore & Persaud (2003)